VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: o apelo de uma professora
- Cecilia do Nascimento
- 15 de abr. de 2023
- 4 min de leitura

Recentemente um pânico tem crescido no coração de todos envolvidos com a escola de alguma forma – pais, alunos, professores e outros funcionários – por conta de uma onda de ataques que têm ocorrido, tendo o ambiente escolar como cenário e alvo.
Não quero destacar as notícias e os acontecimentos aqui, pois está sendo disseminada uma informação de que o que os criminosos desejam é justamente isso, que seus feitos sejam expostos e falados por todos, o que é simplesmente horrível (por isso, lembre-se de não compartilhar fotos nem nomes), mas deixo aqui meus sinceros pêsames por todas as vítimas acometidas pela tragédia.
Como professora, tenho que admitir que a situação toda parece meio surreal. Tão distante do que um ambiente escolar costuma e deveria sempre ser: alegre, acolhedor, com vozes e risadas de crianças ecoando pelos corredores, paredes desenhadas e com cartazes. As notícias recentes pintaram a imagem mental que temos de vermelho. Vermelho da violência e vermelho de perigo.
Muitas famílias estão receosas em enviar suas crianças para a escola. Muitos funcionários estão temerosos em ir trabalhar, e não podemos tirar a razão de nenhum deles.
De fato, é preciso haver um olhar mais aguçado sobre a segurança nas escolas.
Nós, professores, temos várias funções em vários momentos: educadores, exemplos, pais/mães, cuidadores, primeiros socorros, psicólogos (dos alunos e às vezes das famílias também), artistas, atores etc. E sim, seguranças também.
Na grande maioria das escolas públicas – falo aqui das escolas públicas pois é meu local de atuação, mas acredito que se aplique à muitas da rede particular também – não há funcionários responsáveis pela segurança. Inspetores cuidam da entrada e saída de alunos, oficiais de escola cuidam da entrada e saída de funcionários e pais que vêm à escola por algum motivo, a gestão escolar cuida de atender possíveis visitantes. Mas quem cuida de nós?
Em uma situação como as que ocorreram nas últimas notícias, o único escudo entre o perigo e os alunos é o corpo dos educadores.
Não estamos preparados para lidar com uma situação dessas. Me entristece ver que, tragédias como as anunciadas no jornal, poderiam ser evitadas se as escolas fossem tratadas como outros estabelecimentos onde se encontram bens materiais: shoppings, bancos, lotéricas. Mas e os bens imateriais? Bens pessoais, humanos.
Nas escolas estão os maiores tesouros de muitas famílias: seus filhos e filhas. Além das vidas preciosas dos funcionários. Merecemos ter essa segurança de que, se algo acontecer – coisa que não estamos cem por cento a salvo em nenhum momento – teremos segurança apropriada e chance de ter a tragédia evitada.
O primeiro passo é óbvio: ser obrigatório ter segurança nas escolas. Particular ou pública. É necessário ter pessoas preparadas fazendo a segurança de quem entra e sai, preparado para qualquer eventualidade e evitar qualquer incidente. É uma questão de responsabilidade em um lugar cheio de pessoas vulneráveis – adultos e crianças – que precisam ter a certeza de estarem protegidos para voltar a ter paz e o ambiente escolar voltar a ser colorido novamente. Câmeras e alarme de segurança e muros bem construídos (Sim, Sr. Prefeito de SBC, estou falando com você) também são medidas necessárias.
Outras formas de prevenção são mais pessoais e estão ligados a pais. Esteja sempre atento ao comportamento do seu filho caso haja mudanças ou algo suspeito, converse com ele sobre os acontecimentos na escola e, caso haja algo incomodando, busque junto a ele uma solução livre de violência. Esteja atento ao histórico de buscas na internet – crianças e adolescentes andam tendo muito acesso a conteúdos que incitam ódio e isso pode influenciá-los – além de sempre explicitar que violência nunca é a resposta.
Nas escolas, o trabalho é de anti-bullying, campanhas contra qualquer tipo violência e, claro, também seguir observando comportamentos que possam parecer subversivos para evitar que o pior aconteça.
Todos, juntos, podemos lutar contra a violência para evitar tragédias, que é a única coisa que nos deixa verdadeiramente impotentes.
E, é claro, esse tipo de assunto deve surgir não somente quando algo de ruim acontece – pois aí já é tarde demais – mas a campanha contra violência e discursos de ódio deve ocorrer constantemente. Crianças e adolescentes são mentes em transformação, eles podem e vão absorver o que escutam, veem e sentem. Temos que garantir que, mesmo não podendo controlar tudo, a maioria das coisas que eles irão absorver serão positivas e desencadearão neles reações também positivas.
É um trabalho de formiguinha, passo a passo, mas acredito que não seja impossível.
Esse texto é um desabafo e um acalento ao meu coração enquanto professora, pois ao me deparar com situações como essa, não posso ficar simplesmente parada. Reajo dentro da sala de aula, incentivando meus alunos ao respeito e amor ao próximo, e na escrita, divulgando boas informações e incentivando que meus leitores façam o mesmo. Acredito que o bem é uma semente, como diz a bíblia, do tamanho de um grão de mostarda. Pequenininha, que é cultivada e cresce imensamente.
Assim também é a luta contra a violência nas escolas. Enquanto seguimos plantando e regando o bem, acreditamos que crescerá imensamente, até não precisarmos mais lutar, apenas desfrutar.
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